A morte não para em Porto Alegre e Região Metropolitana
Já são 801 mortes neste ano. Pela primeira vez, projeção é de mil baixas em 2011
Duplo homicídio na Vila Valença, em Viamão, elevou para 801 o número de crimes. Pela primeira vez no ano, projeção indica mais de mil mortes ao final de 2011.
O ressurgimento de um conflito entre traficantes em um bairro de Viamão marcou a chegada à triste estatística: 801 mortes na Região Metropolitana e Capital. Desde janeiro, o Diário Gaúcho faz a soma de homicídios e latrocínios (roubo com morte).
Na noite de segunda-feira, um duplo assassinato chocou os moradores da Vila Valença, mas não os surpreendeu. Tiroteios constantes e uma história de violência já não são novidades.
– Meu filho estava brincando na rua quando o tiroteio começou. A gente se fechou em casa. É complicado morar aqui – conta uma comerciante, 29 anos, há dois anos na vila.
Trabalhando com a grade fechada no armazém, conta que, neste mês, os duelos entre traficantes se intensificaram. No sábado, um homem foi morto com um tiro de espingarda calibre 12. Nas execuções de segunda, uma espingarda do mesmo calibre foi usada.
Minutos antes do assassinato da Rua Dois, uma viatura da BM foi vista no local. Fez a patrulha, como de costume, enquanto as crianças brincavam na rua. Logo depois, os atiradores chegaram em um veículo escuro.
– A gente achou até que fosse polícia, mas como ele (o carro) veio correndo, cada um foi pra sua casa – conta o menino.
"Ninguém quer comprar a casa"
Mãe e filho, com medo de represálias, pediram para não ser identificados. O pedido se repetiu em outra rua, onde um pedreiro de 59 anos (20 deles na vila), contou:
– Já foi bem pior. Deu uma acalmada, mas de uns meses para cá, piorou muito. Eu não vejo a hora de ir embora daqui. Mas ninguém quer comprar a casa da gente.
Polícia investiga relação nos casos
A dúvida dos investigadores da 1ª DP de Viamão é se a ordem para os assassinatos partiu de dentro do grupo que atuaria na região ou se de rivais tentando invadir bocas de fumo. Para o chefe de investigações, José Patriarca, a relação entre os crimes é bastante provável. Em comum, há a arma:espingarda calibre 12.
Na noite de segunda-feira, as vítimas foram identificadas como Paulo César da Silva Bezerra, 33 anos (com antecedentes por roubo) e Andrei Fernandes de Oliveira, 29 (antecedentes por tráfico e porte ilegal de arma). Foram as mortes 800 e 801.
Conforme a polícia, Andrei deveria estar cumprindo sua pena em prisão domiciliar.
Testemunhas apontam que o crime foi de extrema violência. A perícia teria contabilizado até 27 disparos feitos em frente ao portão verde de um antigo bar e armazém. Na noite de sábado, Vágner Lopes Macedo, 26 anos, foi morto com tiros nas costas na Rua E.
Detido é suspeito de ser mandante
Na última semana, um homem apontado como o principal traficante da Vila Valença foi preso com uma arma. Não é descartada a hipótese de que ele tenha ordenado as mortes como forma de defender o território de uma invasão de traficantes ligados aos Bala na Cara.
– O que sabemos é da relação dos crimes com o tráfico – afirmou José.
O ranking do temor
Viamão é a quarta com mais crimes na Região Metropolitana. Como os homicídios estão divididos entre muitos bairros, a cidade não tem região no ranking do terror.
Entre os seis primeiros estão os quatro bairros eleitos pela Secretaria de Segurança Pública (SPP) para implantar o programa RS na Paz: Rubem Berta, Restinga, Lomba do Pinheiro e Santa Teresa. Eles receberam ônibus da BM e a implementação de programas sociais.
Segundo dados do Diário, só a Tinga teve redução de mortes. Hoje, a SSP prometeu divulgar seu primeiro balanço das ações.
Vila foi palco do 600º assassinato
Um dos crimes mais violentos do ano em Viamão aconteceu na Vila Valença. Foi na manhã de 12 de agosto que uma dona de casa e seu filho levaram um susto ao encontrar um saco plástico no pátio de casa.
Dois meses depois...
Quando abriram, encontraram a cabeça de um homem com marcas de cinco tiros. Duas horas depois, a 3km do local onde foi abandonada a cabeça, foi localizado o corpo de um homem decapitado.
Sem marcas de tiros, estava caído em terreno descampado, nos fundos de uma obra. O local é utilizado como campo de futebol. Na época, uma das hipóteses investigadas pela polícia era que a morte fosse em decorrência da guerra entre dois grupos de traficantes.
Aquela foi a morte de número 600 no ano. Pouco mais de dois meses depois, o mesmo bairro foi palco dos homicídios 800 e 801.
Confira
Por bairros:
1º) Rubem Berta (Porto Alegre)................79
2º) Restinga (Porto Alegre).......................41
3º) Mathias Velho (Canoas)..................... 37
4º) Umbu (Alvorada).............. ................. 27
5º) Lomba do Pinheiro (Porto Alegre).........24
6º) Santa Teresa (Porto Alegre)................ 19
Por cidades:
1º) Porto Alegre 343
2º) Alvorada 80
3º) Canoas 74
4º) Viamão 59
5º) Gravataí 52
6º) Novo Hamburgo 48
7º) São Leopoldo 44
8º) Cachoeirinha 29
9º) Guaíba 22
10º) Sapucaia do Sul 17
Ao chegar a 801 mortes em 291 dias, a média está em 2,75 casos diários – o que indica uma projeção de 1.004 assassinatos em 2011. É a primeira vez no ano que o prognóstico passa dos mil.
Carolina Rocha e Eduardo Torres
Fonte: Zero Hora